José Um luar de prata banhava o caminho sinuoso de sombras que se recortavam como agulhas e corações deformados, agitados e perturbadores na vereda de terra batida. Transmitiam movimento aos contornos delimitados por fragas e muros silenciosamente...
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José Um luar de prata banhava o caminho sinuoso de sombras que se recortavam como agulhas e corações deformados, agitados e perturbadores na vereda de terra batida. Transmitiam movimento aos contornos delimitados por fragas e muros silenciosamente expectantes na noite. Um recorte figurativo, alongado e neutro, deslizava ao acaso em passos pesados que arranhando a gravilha e ferindo o silêncio, despertaram o voo surdo de uma coruja, que como folha embalada pelo vento e descrevendo descendentes espirais, acabou pousada, incerta e apagada, na estrangulada curva do caminho. Pedreiro solitário da terra, trabalhando nas fraldas da serra, palmilhava normalmente aquele percurso que atalhava o tempo até casa. Aí, nada de novo o esperava. Apenas a vontade de se sentar, junto à lareira, que acendia e ateava o fogo da lembrança da mulher que perdera, de incompreensível doença, que explicações doutoradas nunca o fizeram entender. A aldeia onde habitava tinha deixado de o ser. As casas, moribundas,
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