Meti-me no comboio.
Ia fardado.
Na minha carruagem seguiam
também uma senhora e uma petiza.
Com surpresa geral, o comboio
parou em plena floresta.
E pingavam os minutos sem que retomasse
a marcha.
-O maquinista é poeta, mamã.
Pode ter a certeza de que...
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Meti-me no comboio.
Ia fardado.
Na minha carruagem seguiam
também uma senhora e uma petiza.
Com surpresa geral, o comboio
parou em plena floresta.
E pingavam os minutos sem que retomasse
a marcha.
-O maquinista é poeta, mamã.
Pode ter a certeza de que ele está
agora mesmo numa árvore a fazer versos – diz então a petiza, de
nariz amolgado contra a vidraça da janela.
Alguns passageiros tinham saído e olhavam irritadamente para
as extremidades da composição.
Fui até à porta da carruagem para
desentorpecer as pernas e respirar ares soltos.
-Que se passa? – perguntei a um dos tais passageiros irritados.
Ele encolheu os ombros, deu um pontapé colérico numa pinha seca,
atrelou com azedume palavras feias.
Voltei ao meu lugar, tão
esclarecido como dantes, e deixei que os meus olhos pardalitassem
com fastio pelos títulos de um jornal.
- Meu Deus, que contratempo! – gemeu, à minha frente, a mãe
da tal petiza.
– O teu pai, coitado, vai fartar-se de esperar por nós
em Santa Apolónia.
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