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CONFISSÕES DE AGOSTINHO
CAPÍTULO VI. O crime gratuito
Que amei, então, em ti, ó meu furto, crime noturno dos meus dezesseis
anos? Não eras belo, já que eras furto. Mas, por acaso és algo para que
eu fale contigo? Belas eram as...
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CONFISSÕES DE AGOSTINHO
CAPÍTULO VI. O crime gratuito
Que amei, então, em ti, ó meu furto, crime noturno dos meus dezesseis
anos? Não eras belo, já que eras furto. Mas, por acaso és algo para que
eu fale contigo? Belas eram as peras que roubamos, por serem
criaturas tuas, ó formosíssimo Criador de todas as coisas, bom Deus,
Deus sumo, meu bem e meu verdadeiro bem; belas eram aquelas
peras! Porém, não eram elas que apeteciam minha alma depravada.
Eu as tinha em abundância, e melhores. Colhi-as da árvore só para
roubar; tanto que, tão logo colhidas, joguei-as fora, saboreando nelas
apenas a iniquidade, com que me regozijava. Se alguma delas entrou em minha boca,
somenteocrimeéquelhedeusabor.
E agora pergunto, meu Deus: que é que me deleitava no furto? Pois não encontro
nenhuma beleza nele. Já não falo da beleza que reside na justiça e na prudência, nem
sequer da que resplandece na inteligência do homem, na memória, nos sentidos ou na
vida vegetativa; nem da qu
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